Tema de livros, retratado em filmes e séries, pesquisado por psicólogos e sociólogos, a perseguição obsessiva a alguém em tempos modernos atende por stalker. Por definição, ‘to stalk’ é caminhar pé ante pé, de forma lenta, como se entrasse em território desconhecido, observando e aproximando. No Brasil, como muitos outros estrangeirismos, este virou até verbo, com flexões de modo e tempo.
Assim, é possível que muitos estejam ‘estalkeando’ cantores, astros de TV, teatro e cinema, apresentadores, palestrantes e youtubers (mais um substantivo nascente). Assomam esta lista ex-companheiros/as (obsessões iguais aqui!) insatisfeitos pelo termino do relacionamento. Assim, todos podem ser stalkeados. De celebridades a feirantes, de religiosos a cozinheiros, de atletas a professores, todos têm potencial.
Os motivos para esse comportamento são variados. Desejo, admiração, rejeição, inveja, vingança, ciúme, desprezo, a lista é extensa. No Canadá, Estados Unidos, Reino Unido e alguns países europeus, a persistência em forçar encontros ocasionais passou a ser criminalizada. Alguns consideram a ‘cantada’ uma conduta punível.
Os objetivos do stalker são de torna-se próximo e ter acesso a intimidade do outro. Contudo, o sentimento de ter a intimidade vigiada, invadida e exposta é sempre frustrante. Privacidade é objeto intocável, assegurada pela Constituição Federal do Brasil de 1988, no artigo 5º, inciso X. Já a importunação insistente é considerada uma contravenção penal (Art. 65, DL 3688/1941), podendo ser agravada pelo artigo 147 do Código Penal como ameaça.
Se por um lado, ser stalkeado confere uma certa sensação de perigo, não se pode deixar de notar o outro lado também. Narciso nunca esteve tão bem representado quanto nos tempos atuais. Redes sociais, aplicativos de conversa, canais de vídeo e sites oferecem uma ampla variedade de meios para expor a privacidade, a vaidade, o orgulho e o desejo. São fotos, vídeos e blogs que revelam o triunfo da virtualidade e a massificação da extimidade. Nessa onda, infelizmente, nem os presos escapam.
Mas, não basta postar algo. É preciso compartilhar com o mundo. E depois, saber quantos vão seguir, comentar, conseguir mais curtidas e visualizações. Todos agora são protagonistas de si e querem mostrar suas experiências. Afinal, alegria anônima é tristeza disfarçada.
No filme Stalker, da década de 1980, um professor e um cientista são alertados sobre os perigos de visitar a Zona (sem qualquer alusão), um local onde todos os desejos eram realizados e que somente os stalkes podiam sobreviver ao jogo de aparências. A vaidade, o desejo e a vontade são excelentes conselheiros para mostrar que a vida sempre nos coloca em perigo. Alguns desses preferimos.
Leyla Yurtsever